PC SILVA
Após 19 anos vivendo no município de Serra Talhada, o jovem Paulo César Silva se mudou com a família para a região central do Recife no final dos anos 1990. No bairro da Boa Vista, o odor do canal da Avenida Agamenon Magalhães e a tonalidade alaranjada do anoitecer protagonizaram um contraste urbanístico que causava certo pavor no jovem. Nessa mesma capital úmida, tórrida e quase caótica, suas referências de oralidade, poesia e improviso do Sertão do Pajeú se encontraram com novos artistas, que hoje dão vida a uma inventiva cena autoral pernambucana.
O percurso de PC Silva, nome que o cantautor adotou no âmbito artístico, chegou a um capítulo importante com o lançamento de Amor, saudade e tempo, o seu primeiro álbum solo. As três palavras são como "alicerces temáticos" - o músico é formado em arquitetura e urbanismo - que erguem um disco com 11 faixas. A sonoridade, como já é comum dessa cena musical do estado, mescla uma regionalidade contemporânea com a música popular brasileira e algumas instrumentações mais eruditas, mas sempre com algumas especificidades de cada artista - no caso de PC, as referências do Sertão do Pajeú e as vivências emocionais.
O primeiro single, Meu amorzim, por exemplo, tem inspiração na religiosidade de sua avó, que foi rezadeira em Serra Talhada. A música faz alusão aos ritos religiosos de um cristianismo popular característico do Sertão. O clipe foi gravado na zona rural do município sertanejo, com direção de fotografia de Felipe Schuler. Todas as vidas do mundo, uma regravação de Ceumar (cantora mineira), consegue dialogar com o contexto de solidão e transitoriedade da atual crise sanitária. Saudade arengueira, composição conjunta com a pernambucana Isabela Moraes, foi inspirada em um acidente que vitimou o parente de um grande amigo.
Em tempos difíceis para a classe artística, o disco
se soma a Revoredo, de Alexandre Revoredo, e Estamos vivos, de Isabela Moraes,
entre os lançamentos pernambucanos em meio à pandemia. Foram dois anos de
estruturação e maturação, com sessões no Estúdio Carranca, no Recife. A direção
musical é de Juliano Holanda (que também toca guitarra, violão e baixo no
álbum). Gilú Amaral (percussão) e Diego Drão (piano) completam a ficha técnica
das gravações. A paulista Mônica Salmaso e a mineira Ceumar são os vocais
femininos que integram o projeto com participações especiais, além do
instrumentista Lui Coimbra.
Para explicar o conceito que solidificou o álbum, PC Silva constrói uma cena figurativa, dosando os conhecimentos de arquiteto, cantor e autor: "O amor e o tempo são dois postes verticais fixos e sobrepostos. O que liga os dois é a saudade, como um fio entre os postes. Quanto mais o tempo se afasta do amor, mais a curva do fio se alonga, até que ela toca no chão. Quando isso ocorre, é que o tempo passou de uma forma que a saudade não existe. No álbum, esses três fenômenos passeiam de uma forma que conseguimos chegar nesse desenho de força de narrativa. Para fazer valer a pena, tudo precisa ser estudado para ser mais bonito e mais poético."
Ainda enquanto cursava arquitetura, PC participou da banda A Feira, composta com amigos para tocar em festas universitárias. Após um período da Angola, ele voltou ao Recife e colaborou no álbum Desarrumado (2011), do arcoverdense Pablo Patriota. Em 2012, montou com amigos o grupo Bandavoou, que lançou o álbum Nó (2015), com participação de Juliano Holanda e do grupo Bongar. A repercussão do álbum fez com que a banda abrisse um show de Milton Nascimento no Ibirapuera, em São Paulo. "O grupo acabou em 2016, com um último show no Teatro de Santa Isabel. Eu passei um tempo tentando absorver o fim dessa banda. Descobri que bandas foram feitas para acabar", diz PC, bem-humorado.
"Apesar de tudo, eu queria continuar nessa carreira. Me dediquei bastante à composição. Eu tinha todo o tempo do mundo para me apresentar quando estivesse pronto. Em 2017, decidi que deveria lançar um disco solo, e Juliano se propôs a gravar. Ele foi fundamental para esse disco acontecer. Chegamos em 11 músicas que se conectam entre si, que conseguem ter uma liga que encontramos para esse álbum."
PC Silva também integra o coletivo Reverbo, uma movimentação da música autoral pernambucana que agrega, além de Juliano Holanda, nomes como Marcello Rangel, Flaira Ferro, Martins, Jr. Black, Luiza Fittipaldi, Vinícius Barros, Igor de Carvalho, Alexandre Revoredo , Gabi da Pele Preta, Almério, entre outros. O artista comenta sobre a influência que o projeto exerce sobre sua arte: “A canção está enraizada na essência de tudo o que esses compositores estão fazendo. O coletivo me influencia pela maneira como Juliano escreve ou como Martins e Marcelo Rangel tocam. Essas técnicas instrumentais e de voz vão sendo lapidadas aos poucos resultando nessa amostra final chamada Reverbo.”
Fonte: https://www.diariodepernambuco.com.br/noticia/viver/2020/07/pernambucano-pc-silva-lanca-amor-saudade-e-tempo-seu-primeiro-album.html
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