segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

PC SILVA - O CANTAUTOR

PC SILVA

 

 

Após 19 anos vivendo no município de Serra Talhada, o jovem Paulo César Silva se mudou com a família para a região central do Recife no final dos anos 1990. No bairro da Boa Vista, o odor do canal da Avenida Agamenon Magalhães e a tonalidade alaranjada do anoitecer protagonizaram um contraste urbanístico que causava certo pavor no jovem. Nessa mesma capital úmida, tórrida e quase caótica, suas referências de oralidade, poesia e improviso do Sertão do Pajeú se encontraram com novos artistas, que hoje dão vida a uma inventiva cena autoral pernambucana.

 O percurso de PC Silva, nome que o cantautor adotou no âmbito artístico, chegou a um capítulo importante com o lançamento de Amor, saudade e tempo, o seu primeiro álbum solo. As três palavras são como "alicerces temáticos" - o músico é formado em arquitetura e urbanismo - que erguem um disco com 11 faixas. A sonoridade, como já é comum dessa cena musical do estado, mescla uma regionalidade contemporânea com a música popular brasileira e algumas instrumentações mais eruditas, mas sempre com algumas especificidades de cada artista - no caso de PC, as referências do Sertão do Pajeú e as vivências emocionais.

 


O primeiro single, Meu amorzim, por exemplo, tem inspiração na religiosidade de sua avó, que foi rezadeira em Serra Talhada. A música faz alusão aos ritos religiosos de um cristianismo popular característico do Sertão. O clipe foi gravado na zona rural do município sertanejo, com direção de fotografia de Felipe Schuler. Todas as vidas do mundo, uma regravação de Ceumar (cantora mineira), consegue dialogar com o contexto de solidão e transitoriedade da atual crise sanitária. Saudade arengueira, composição conjunta com a pernambucana Isabela Moraes, foi inspirada em um acidente que vitimou o parente de um grande amigo.

 


  Em tempos difíceis para a classe artística, o disco se soma a Revoredo, de Alexandre Revoredo, e Estamos vivos, de Isabela Moraes, entre os lançamentos pernambucanos em meio à pandemia. Foram dois anos de estruturação e maturação, com sessões no Estúdio Carranca, no Recife. A direção musical é de Juliano Holanda (que também toca guitarra, violão e baixo no álbum). Gilú Amaral (percussão) e Diego Drão (piano) completam a ficha técnica das gravações. A paulista Mônica Salmaso e a mineira Ceumar são os vocais femininos que integram o projeto com participações especiais, além do instrumentista Lui Coimbra.

 

Para explicar o conceito que solidificou o álbum, PC Silva constrói uma cena figurativa, dosando os conhecimentos de arquiteto, cantor e autor: "O amor e o tempo são dois postes verticais fixos e sobrepostos. O que liga os dois é a saudade, como um fio entre os postes. Quanto mais o tempo se afasta do amor, mais a curva do fio se alonga, até que ela toca no chão. Quando isso ocorre, é que o tempo passou de uma forma que a saudade não existe. No álbum, esses três fenômenos passeiam de uma forma que conseguimos chegar nesse desenho de força de narrativa. Para fazer valer a pena, tudo precisa ser estudado para ser mais bonito e mais poético."

 


Ainda enquanto cursava arquitetura, PC participou da banda A Feira, composta com amigos para tocar em festas universitárias. Após um período da Angola, ele voltou ao Recife e colaborou no álbum Desarrumado (2011), do arcoverdense Pablo Patriota. Em 2012, montou com amigos o grupo Bandavoou, que lançou o álbum Nó (2015), com participação de Juliano Holanda e do grupo Bongar. A repercussão do álbum fez com que a banda abrisse um show de Milton Nascimento no Ibirapuera, em São Paulo. "O grupo acabou em 2016, com um último show no Teatro de Santa Isabel. Eu passei um tempo tentando absorver o fim dessa banda. Descobri que bandas foram feitas para acabar", diz PC, bem-humorado.

 


"Apesar de tudo, eu queria continuar nessa carreira. Me dediquei bastante à composição. Eu tinha todo o tempo do mundo para me apresentar quando estivesse pronto. Em 2017, decidi que deveria lançar um disco solo, e Juliano se propôs a gravar. Ele foi fundamental para esse disco acontecer. Chegamos em 11 músicas que se conectam entre si, que conseguem ter uma liga que encontramos para esse álbum."

 PC Silva também integra o coletivo Reverbo, uma movimentação da música autoral pernambucana que agrega, além de Juliano Holanda, nomes como Marcello Rangel, Flaira Ferro, Martins, Jr. Black, Luiza Fittipaldi, Vinícius Barros, Igor de Carvalho, Alexandre Revoredo , Gabi da Pele Preta, Almério, entre outros. O artista comenta sobre a influência que o projeto exerce sobre sua arte: “A canção está enraizada na essência de tudo o que esses compositores estão fazendo. O coletivo me influencia pela maneira como Juliano escreve ou como Martins e Marcelo Rangel tocam. Essas técnicas instrumentais e de voz vão sendo lapidadas aos poucos resultando nessa amostra final chamada Reverbo.”

 Fonte: https://www.diariodepernambuco.com.br/noticia/viver/2020/07/pernambucano-pc-silva-lanca-amor-saudade-e-tempo-seu-primeiro-album.html














 



quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

Carlos Fernando

 Carlos Fernando

 

Carlinhos - como era chamado pelos amigos - nasceu em Caruaru em 19 de Outubro de 1937, e começou na vida artística por volta de 1956 fazendo teatro com Luiz Mendonça, chegou até a escrever uma peça chamada “A Chegada de Lampião no Inferno”, inspirada no cordel clássico de José Pacheco.

A peça inspirou Carlos Fernando a compor em parceria com Geraldo Azevedo, o frevo “Aquela Rosa”, a primeira composição dos dois, e gravado a primeira vez num compacto de Teca Calazans em 1967. A música tirou em primeiro lugar na 2º Feira de Música do Nordeste, empatada com Chegança de Fim de Tarde, de Marcus Vinicius de Andrade.

“Carlos Fernando tinha escrito uma peça, um negócio de Lampião… e eu, porra, a maneira que ele escrevia, eu disse, rapaz você deveria fazer letra de música. Tem várias coisas que davam pra musicar. Acho que ele já tinha uma ideia, mas não tinha botado isso pra fora, isso de compor. Aí ele me deu Aquela Rosa, botei a música em cima, inscrevemos no Festival de Música Popular do Nordeste e ganhamos o festival”.
(…)
“Foi a minha primeira composição e também a dele. Foi inspirada nos corsos, que ainda existiam. O rapazes e as moças, dos carros, iniciavam uma paquera jogando pitombas um nos outros. Não dava pra ser Aquela pitomba, então entrou a rosa” revela Geraldo Azevedo.

Geraldo Azevedo foi o grande parceiro de música de Carlos Fernando contando com várias composições juntos. Amigos de longa data, tem música de Carlos desde o 1º LP de Geraldo Azevedo lançado em 1977, com a música “Caruaru City Jazz”, que foi censurada pela ditadura e por isso teve que mudar o nome para “Coração do Agreste”. Gravada na última faixa desse 1º disco de Geraldo, e ainda contando com um trecho de “A Feira de Caruaru” de Onildo Almeida nessa gravação.
Nesse disco, quase todas as músicas é de parceria com Carlos Fernando, das 8 faixas, 7 tem Carlos Fernando no meio como: “Barcarola de São Francisco”, “Domingo de Pedra e Cal”, “Em Copacabana”, “Juritis e Borboletas” dividindo parceria e “Cravo Vermelho” e “Fulô do Dia” que Carlos Fernando assina sozinho.





Carlos Fernando também assina parceria com Geraldo Azevedo em “Semente de Adão”, gravada no clássico disco “Cantoria 1”, disco de Geraldo, Elomar, Vital Farias e Xangai, gravado em 1984.



Entre seus maiores sucessos estão “Canta Coração” (Canta, canta passarinho, canta, canta miudinho / Na palma da minha mão / Quero ver você voando, quero ouvir você cantando / Quero paz no coração.) em parceria com Geraldo Azevedo, gravado a 1º vez no disco “Inclinações Musicais” em 1981, de Geraldo Azevedo. E a música que mais fez sucesso foi “Banho de Cheiro” (Eu quero um banho de cheiro / Eu quero um banho de lua / Eu quero navegar / Eu quero uma menina / Que me ensine noite e dia / O valor do beabá.), clássico obrigatório em todo carnaval, gravado a 1º vez por Elba Ramalho em 1983 no disco “Coração Brasileiro”.
 


Mas a grande contribuição de Carlos Fernando foi ter idealizado e gravado a série de discos “Asas da América” num total de 7 LPs de frevo com todas as músicas de composição suas ou dividida com parceiros. Charlie (como também era chamado pelos amigos, ou ainda simplesmente CF) ressignificou o frevo aproximando-o da MPB, numa época em que o frevo basicamente não passava da pracinha do Diário em Recife em época de Carnaval. Adicionou guitarra elétrica e teclado ao frevo com arranjos contemporâneos como falou o produtor Geraldinho Magalhães, e ainda contando com artistas consagrados da MPB pra gravar cada um, uma música, dentre eles: Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Jackson do Pandeiro, Lula Queiroga, Nena Queiroga, Marco Polo, Flaviola, Geraldo Azevedo, Elba Ramalho e vários outros.



Inclusive, foi no 1º LP do Asas da América que Gilberto Gil e Jackson do Pandeiro interpreta “Sou Eu Teu Amor” de composição de Carlos Fernando e Alceu Valença, em homenagem a Cacho de Coco e seu bloco “Sou Eu Teu Amor” que desfilava no carnaval de Caruaru da década de 60 (como é contada aqui).

A partir do Asas da América, Carlos Fernando ainda idealizou e gravou uma outra série de 5 discos chamado “Recife Frevoé” e produziu mais um chamado “100 de frevo - é de perder o sapato” que conta com artistas como Spok, Maria Rita e Vanessa da Mata.

 



 Em 2009, Carlos Fernando foi homenageado do carnaval do Recife, e morre em 2013 devido a um câncer de próstata, e em 2014 foi um dos homenageados do São João de Caruaru.

Fonte: https://medium.com/a-ponte/o-bo%C3%AAmio-poeta-e-compositor-carlos-fernando-bec093c31d9

 

quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

Um "Cidadão" chamado Lúcio Barbosa

 Um "Cidadão" chamado Lúcio Barbosa


 

Lúcio Barbosa, natural de Senhor do Bonfim, foi morador do Alto da Maravilha. Tornou-se conhecido na música popular brasileira como autor e compositor das músicas “Cidadão” e “O Profeta”, que contam com inúmeras regravações.


 

Seu grande êxito aconteceu em 1979, quando sua música “Cidadão” foi gravada pelo cantor e compositor Zé Geraldo no LP “Terceiro Mundo”, da CBS. Essa composição conheceu diversas regravações, entre as quais, as de Luiz Gonzaga, Silvio Brito, Zé Ramalho, Renato Teixeira, Elymar Santos e, em 1989, tornou-se grande sucesso no sul do país, na gravação de Wilson Paim. Foi também regravada pelo próprio Zé Geraldo, inclusive no disco “Cantoria 3”, lançado pela Kuarup.

 


 

 

Em 1992, a música “Cidadão” foi regravada por Zé Ramalho no disco “Frevoador”, lançado pela Columbia/Sony Music. Lúcio Barbosa morava em Itapecerica da Serra, São Paulo.

Faleceu no  dia 27 de dezembro de 2022, na cidade de Itapecerica da Serra-SP aos 74 anos de idade. 

 


Fonte: http://blogdoeloiltoncajuhy.com.br/site/morre-o-compositor-bonfinense-lucio-barbosa-autor-de-cidadao-gravada-por-luiz-gonzaga-e-ze-ramalho/
https://www.jornalspreporter.com.br/noticia/12284/itapecerica-da-serra-morre-lucio-barbosa-autor-da-musica-lcidadaor-silvio-brito-presta-homenagem


Curiosidades sobre a música Cidadão

O poeta baiano Lúcio Barbosa compôs “Cidadão” como homenagem a um tio que era pedreiro. A letra traz à análise, o preconceito e a discriminação por que passam os nordestinos nas grandes cidades do país, em especial os que se dedicam à mão de obra da construção civil. Foi gravada pela primeira vez pelo cantor Zé Geraldo em 1979, e alcançou enorme sucesso também a regravação feita por nosso conterrâneo Zé Ramalho.

“Tá vendo aquele edifício, moço?/Ajudei a levantar/Foi um tempo de aflição/Eram quatro condução/Duas pra ir, duas pra voltar”. O construtor anônimo das metrópoles não recebe o reconhecimento da contribuição oferecida desde o alicerce das grandes obras civis. As diferenças sociais não permitem um tratamento de respeito e valorização do trabalhador braçal. Os poderosos, os mais abastados, ficam indiferentes à sua sorte. É a exploração de uma sociedade capitalista e injusta. Pouco importam as dificuldades por que passam os operários para chegarem ao local de trabalho e exercerem seu ofício. Sequer percebem que a presença deles é feita num processo desgastante e penoso no uso do transporte público nas idas e vindas do trajeto casa/trabalho. No caso da letra da música, esse trabalhador apanha quatro conduções por dia, duas para vir e duas pra voltar para casa.

“Hoje ele pronto/olho pra cima e fico tonto/Mas me vem um cidadão/e me diz desconfiado/Tu tá aí admirado?/Ou tá querendo roubar?”. Concluída a obra, o operário contempla maravilhado o edifício que ajudou a ser erguido. Sente uma ponta de orgulho do seu trabalho. Mas eis que se surpreende com a interpelação de um cidadão, questionando porque ele estava ali, parado, observando, o prédio recém-inaugurado. Suspeita, por sua condição social de inferioridade, que sua intenção é de roubar. Essa postura, muito recorrente no nosso cotidiano, revela bem a forma como os pobres, e nesse particular os nordestinos de baixa renda, são tratados, menosprezados e humilhados.

“Meu domingo tá perdido/vou prá casa entristecido/dá vontade de beber/E prá aumentar meu tédio/eu nem posso olhar pro prédio/que eu ajudei a fazer”. Decepcionado, sente que naquele fim de semana, o seu tempo de folga “está perdido”. E procura então uma de suas poucas formas de lazer, beber. Aí já entra a constatação do alcoolismo como fuga de uma situação de sofrimento e preocupações com a própria sobrevivência e de amparo da família. Difícil entender como ele não pode sequer admirar o prédio que ajudou a construir, imagine entrar e usufruir dele como qualquer cidadão.

“Tá vendo aquele colégio moço?/Eu também trabalhei lá/Lá eu quase me arrebento/Pus a massa, fiz cimento/Ajudei a rebocar”. O compositor registra aqui novas denúncias, a participação do personagem da música na construção de uma escola em condições de trabalho das mais precárias e a ausência de oportunidades de educação para as classes menos favorecidas.

“Minha filha inocente/vem pra mim, toda contente/Pai vou me matricular/Mas me diz um cidadão/Criança de pé no chão/aqui não pode estudar”. O sonho, dele e da filha, de vê-la ali frequentando a escola, se desfaz. O “cidadão” logo lhe adverte de que “criança de pé no chão, ali não pode estudar”. Aquele estabelecimento de ensino foi construído para os ricos. Interessante que o personagem, por si mesmo, já se exclui da condição de cidadania. “Cidadão” é aquele que tem poderes para alijá-lo da sua convivência social. “Cidadão” é aquele que determina sua vida sem a oferta do que lhe é de direito: moradia digna, educação e saúde. Ele não se enxerga como “cidadão”.

Essa dor doeu mais forte/por que é que eu deixei o norte/Eu me pus a me dizer”. Dolorosamente chega à conclusão que não fez bem em vir para o sul, tentar uma melhoria de vida. As esperanças de que ali poderia ter um melhor padrão de vida para si e a família caem por terra.

“Lá a seca castigava/mas o pouco que eu plantava/tinha direito a comer”. Ainda que lamentando a penúria que vivia em épocas de seca, ele lembrava que com o “pouco que plantava” tinha garantido o que comer. Não haveria necessidade de se submeter a tanta submissão e humilhação.

“Tá vendo aquela igreja, moço?/Onde o padre diz amém/pus o sino e o badalo/enchi minha mão de calo/lá eu trabalhei também/lá foi que valeu a pena/ tem quermesse, tem novena/e o padre me deixa entrar”. A igreja como refúgio derradeiro do seu padecimento. Um local onde o seu trabalho na construção fez valer verdadeiramente o seu esforço. Ali não há proibição da sua entrada. Ali ele se integra aos acontecimentos religiosos e festivos: novenas e quermesse. Ali ele coloca nas mãos de Deus suas esperanças de que o sofrimento seja amenizado.

“Foi lá que Cristo me disse:/Rapaz deixe de tolice/não se deixe amedrontar/Fui eu quem criou a terra/enchi rio, fiz a terra/não deixei nada faltar”. Apoia-se no exemplo de Cristo, que se diz, como filho de Deus, construtor de tudo o que há na terra, oferecendo ao homem todas as condições de bem viver dela, de forma igualitária, sem diferenças, sem privilégios para uns e privações para outros.

“Hoje o homem criou asa/e na maioria das casas/eu também não posso entrar”. Ver que a humanidade deu as costas até a quem deve a sua própria existência. Nas casas falta solidariedade cristã em boa parte delas. O espírito de fraternidade que deve prevalecer entre os homens inexiste em muitos lares.

• Do livro “CANÇÕES QUE FALAM POR NÓS”.

Fonte: https://www.recantodasletras.com.br/analise-de-obras/6162120

















domingo, 1 de janeiro de 2023

D. GRITOS - O ROCK DO SERTÃO PERNAMBUCANO

 BANDA D. GRITOS

 

Há 27 anos surgiu em Serra Talhada um grupo que revolucionou o cenário musical do interior de Pernambuco e do Nordeste, era a banda D. Gritos, formada por jovens serratalhadenses, eles quebraram tabus e  preconceitos culturais e sociais que predominavam na época. Com letras fortes e autênticas eles conquistaram a juventude da sua geração.


 

Foram três discos gravados, sendo que apenas um foi lançado, Barriga de Rei, os outros foram Traumas e Navegantes. Mesmo sem apoio financeiro, a banda D.Gritos conseguiu vencer o Festival de Música Popular em Salgueiro, realizar shows em varias cidades de Pernambuco, Paraíba, Ceará e outros estados do Nordeste.

O sucesso obtido com músicas como “Escravos de Ninguém (Porra)”, “Loucos (Mayra)” e “Barriga de Rei” proporcionou ao grupo apresentações em emissoras de TV em Recife-PE e em Campina Grande-PB, além de matérias em jornais de grande circulação como o Diário de Pernambuco.

 


 

Os D. Gritos conseguiram ao longo do tempo escrever uma história muito peculiar, algo intenso e marcante, tanto no contexto musical regional, onde há uma preferência pelo forró, como pelas atitudes e as letras extremamente politizadas de Camilo Melo e Ricardo Rocha. Eles cantavam em alto bom tom: “Deixe o trem passar. Não arranquem os trilhos”(Grilos), era uma forma de expressar a vontade em conseguir o almejado reconhecimento e o sucesso a nível nacional.

 


 

A banda liderada por Camilo Melo, Ricardo Rocha, Jorge Stanley e que contou com a participação de outros integrantes como Cleóbulo Ignácio (Binga), Jairo Ferreira, Doda, Toinho Harmonia, Paulo Rastafári, Nilsinho, Gisleno Sá, César Rasec, Derivan Calado e Elton Mourato, construiu em pouco mais de oito anos um legado musical inigualável, uma história para ser registrada e nunca mais esquecida!

 


 

Um dos grandes destaques da banda foi à parceira musical de Camilo e Ricardo, juntos compuseram várias músicas de sucesso, sendo que a última, “Homem Pó”, foi um prenúncio da fatalidade que marcou a história do grupo. A música é inédita mais pode ser encontrada na internet.

Trajetória interrompida

A trajetória de sucesso da banda foi interrompida de forma trágica em 29 de agosto de 1993, quando realizavam o show de abertura da Festa de Setembro e de forma inesperada veio a falecer Ricardo Rocha com apenas vinte e três anos. A melhor narração dos fatos ocorridos naquela noite foi feita por Giovanni Sá, de forma poética e emocionada ele escreveu:

O show transcorria na mais profunda relação de amor com o público. Já se passava um pouco mais da meia-noite, depois de dedicar uma canção carinhosa a um amigo que partira sem retorno, ao som da canção NAVEGANTES, “o menino maluquinho” caía no palco pra não mais se levantar e decretava ali a sua IMORTALIDADE. O companheiro Ricardo Rocha, tombava sob a luz dos holofotes coloridos e os aplausos de um público apaixonado, no meio dos seus companheiros inseparáveis. A BANDA D’GRITOS emudecia atônita, era difícil acreditar. A vida que levava sempre era cheia de desafios, afinal, ser músico em Serra Talhada nunca foi fácil.

 


 Aquela madrugada será inesquecivel, por ser perfeita e tão belo, aquele show, alguem assistia ao show do “menino maluquinho”. Tamanha beleza e alegria tinham que ser divididas entre os mortais e as estrelas, que com certeza, acabaram de receber mais uma nessa imensa constelação de estrelas.”
(Trechos do TRIBUTO AO COMPANHEIRO “Crônica do Show Anuciado”, Jornal Desafio, setembro de 1993).

Com a morte de Ricardo chegou ao fim o D.Gritos, a maior banda de rock pop do interior pernambucano, era o fim de um sonho de jovens sertanejos que encontraram na música uma forma de se expressar, demonstrando as suas revoltas, suas frustações e ilusões. Porém, o repertório musical da banda venceu o tempo, e uma prova disso é que elas continuam sendo executadas diariamente em rádios de todo o interior nordestino.

Em 2010 a Prefeitura Municipal e a Fundação Casa da Cultura promoveram um Tributo a Banda D.Gritos, pela primeira vez em mais de dezessete anos alguns ex-integrantes do grupo (Camilo Melo, Jorge Stanley, Gisleno Sá, Cesar Rasec e Nilsinho) voltaram ao palco e a som de “Escravos de Ninguem (Porra)” fizeram uma viagem no tempo. O destino de forma irônica colocou todos juntos no mesmo local onde ocorreu a tragedia com Ricardo Rocha.

 


O reencontro histórico da banda D.Gritos só veio a comprovar que “eles mudaram a dimensão daquilo que restou”, que eles são “o lirio brilhou” e que o “eco gritado de uma voz” continua navegando pelo tempo, como se fosse uma eterna melodia!

Fonte: http://paulocesargomes.com.br/?p=1275


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