Ao contrário do que muita gente pensa, os bonecos gigantes que hoje representam uma das maiores atrações do carnaval pernambucano não "nasceram" em Olinda.
A primeira vez que uma dessas figuras foi usada para animar um carnaval brasileiro aconteceu em Belém do São Francisco, cidade do sertão pernambucano, a 486 quilômetros do Recife.
O episódio ocorreu durante o carnaval de 1919 (em Olinda o primeiro boneco só apareceria em 1932), quando Belém realizava uma das mais animadas festas do interior. E essa primeira alegoria, batizada de Zé Pereira, era um boneco de quatro metros, sendo o corpo uma estrutura em madeira vestindo um macacão estampado e a cabeça confeccionada em papel machê. Ou seja, em tudo igual aos atuais bonecos.
No livro "Os Gigantes Foliões de Pernambuco", lançado em 1992, o pesquisador Olímpio Bonald Neto já se referia a esse pioneirismo de Belém do São Francisco. Agora, um outro livro tratando do mesmo tema (este em fase de elaboração) não só vem confirmar a origem como traz vários detalhes sobre o surgimento do primeiro boneco sertanejo.
Segundo a historiadora Tercina Bezerra (autora do livro sobre as manifestações culturais do município), o criador do primeiro boneco gigante de Belém foi um jovem chamado Gumercindo Pires de Carvalho. Rapaz festeiro, ele reuniu um grupo de amigos, pediu ajuda a uma tia que fabricava bonecos para presépios natalinos, confeccionou a alegoria e o grupo caiu no passo pelas ruas da cidade.
Antes do Zé Pereira gigante, os moradores de Belém do São Francisco tinham como única referência a esse tipo de bonecos os relatos do primeiro pároco da localidade, o belga Norberto Phalempin. É que, entre 1905 e 1928, o padre viveu a narrar as festas européias com procissões que usavam bonecos representando figuras bíblicas. De acordo com a historiadora, foi a partir daí que Gumercindo teve a idéia de usar um boneco no carnaval.
Em 1929, o mesmo grupo de foliões que iniciou a troça resolveu criar uma companheira para o Zé Pereira, surgindo então a boneca batizada de Vitalina. Os dois gigantes bonecos casaram-se e, desde então, constituem uma das atrações do carnaval de Belém do São Francisco, onde chegam, de barco, de uma fictícia viagem para abrir a festa na cidade.
A pessoa que dá vida ao boneco, carrega-o na cabeça apoiado em almofada existente na base da estrutura de madeira. A cintura do boneco é localizada na altura dos olhos do carregador, que se orienta através de pequena abertura na braguilha da calça do boneco, que fica amarrada na cintura por debaixo do paletó.
Os bonecos gigantes foram também representados em selo. A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos lançou, em 1991, a primeira série dos selos comemorativos denominada Carnaval Brasileiro, incluindo reproduções do Homem da Meia Noite e da Mulher do Dia, entre outros elementos do carnaval da Bahia e do Rio de Janeiro.
Foi em Olinda que aconteceu uma verdadeira explosão demográfica dos bonecos gigantes foliões: artistas, políticos, personalidades intelectuais, tipos populares ou figuras fantásticas tradicionais. Os carismáticos bonecos gigantes exercem grande fascínio sobre os foliões.
Os artistas de Olinda, com sua arte dão vida e alma a tantos bonecos gigantes foliões que são a cara do carnaval de Pernambuco.