domingo, 27 de julho de 2014

Onaldo Aguiar - O Águia

Onaldo Aguiar - O Águia



Onaldo Alves de Aguiar (Onaldo Aguiar). Nasceu em Belém do São Francisco – PE, no dia 18 de março de 1961, filho de Luiza Alves de Lima Barreto e José Alves da Silva, herdou o sobrenome Aguiar do seu avô paterno Antônio Branco de Aguiar, pois o mesmo era descendente de Portugal.
 
 Onaldo Aguiar esteve presente em vários festivais de música, alcançando sempre as primeiras colocações; participou do prêmio “Pernambuco Música Hoje”, na 1ª eliminatória ficou em 1° lugar e na final em 2° lugar, acontecido na TV Jornal do Commercio. Marcou presença no “1° Encontro Cultural Pernambucano” na Academia de Letras de Pernambuco.
 
 

 
Onaldo compôs mais de 400 músicas, sendo “Águia” a que mais se destacou no Brasil e em outros países. É autor de músicas gravada por vários artistas como: Gildo Moreno, Robério Soares, Timotinho, Zezinho da Ema, Banda Pimenta Perfumada e Brega e Vinho, além de várias outras  bandas de forró.



sábado, 12 de julho de 2014

Flávio Leandro por Xico Bizerra


As fontes de Francisco

O Mercado do Malungo Chico Cruz possui um acervo da música popular brasileira de indiscutível qualidade. Lá, um canto de sereia entoa, e, de vez em quando encontra morada num ouvido mais apurado que vai passando e pensando - será uma miragem sonora? não, é um oásis perdido em meio a alienação... apesar dessa fonte se encontrar ao lado de outra fonte, de um outro proprietário, xará do dono do mercado, e, se descer de ladeira abaixo, no fim da rua, irá se deparar com mais uma fonte, também chamada Francisco - o Velho Chico.
Abaixo, você confere o poeta Xico Bizerra, apresetando o Poeta Cantador Flávio Leandro, autor de composições como De Mala e Cuia e, Brasiliidade e Fu(xico).

Xico Cruz pediu e fiz a postagem dessa maravilha de apresentação do poeta Xico Bizerra, registrada no encarte do CD Cheiro de Nós do Poeta Forrozeiro Flávio Leandro.

Lá vem o cavaleiro-sertão chamado Flávio descendo do reino do Claranã para alumiar com luzes azuis e de todas as cores o céu de Bodocó e de outros lugares, encantando rainhas e plebeus que gostem do que é bom. Ele se achega com o seu aboio cantante e cativante, tão agreste quanto universal, tão mundo e tão aldeia, catingueiro e cheio de pureza das que só se encontra na alma do povo que habita aquelas bandas de lá. Que bom que existam esses Leandros num sertão próximo-distante pra fazer o povo ser feliz e se orgulhar de suas coisas belas, cantar seus bens e espantar os males que um dia haverão de não mais existir. Segue tua sina, cabra do sertão, conhecedor das grutas e dos caldeirões araripenses, cantador verdadeiro das verdades do sol quente, Poeta dos nossos, sem tirar nem pôr; solta tua voz e canta o teu verso sabendo que juntinho de Nosso Senhor um rei de pele escura, sanfona no peito, voz e jeito de quem sabe das coisas, estará se orgulhando do jardineiro que continua aguando a semente que um dia ele plantou e que, por serem bons, semente e jardineiro, floresce e enflorará.
Xico Bizerra, numa quase noite de um Janeiro recém-brotado, admirando a lua se refletir no mar ainda azul de Candeias.


1. NO TEU ABRIGO (Flávio Leandro) Ed.Foluz 2. CHEIRO DE NÓS (Ilmar Cavalcanti / Nanado Alves) Direto 3. PARAÍBA APAIXONADO (Genival Lacerda / Cecílio Nena) Ed. Universal Publishing 4. CARGA PESADA (Flévio Leandro) Ed. Foluz 5. MSN (Elmo Oliveira) Ed. Foluz 6. ISPIM DE MANDACARU (Gilber Roney / Flávio Leandro) Ed. Foluz 7. NORDESTINÊS (Flávio Leandro) Ed. Foluz 8. PULIÇA (Flávio Leandro) Ed. Foluz 9. VIDE VIDA MARVADA (Rolando Boldrin) Ed. Irmãos Vitale 10. A DANÇA DO DIA A DIA (Flávio Leandro) Ed. Foluz 11. SAUDADES DE NÓS (Flávio Leandro) Ed. Foluz 12. MARIA DA ROÇA (Flávio Leandro) Ed. Foluz 13. GRITO DE PAZ (Flávio Leandro) Ed. Foluz.





quinta-feira, 10 de julho de 2014

A Luta dos Trabalhadores do Rio São Francisco Contra a Chesf

O rio São Francisco, o Velho Chico, que pela sua importância já foi chamado de o rio da integração nacional, corta cinco estados do semi-árido nordestino, região conhecida por sua secas e fomes periódicas. Em sua passagem, transforma o sertão brasileiro às suas margens em pequenos oásis de fertilidade. Desde o início dos anos 1970, no entanto, vem sendo desenvolvida uma agressiva política de aproveitamento de suas águas para geração de energia elétrica. Grandes barragens têm sido construídas para isto.
A Companhia Hidrelétrica do São Francisco (CHESF), concessionária da Empresa Brasileira de Energia (ELETROBRÁS) no Nordeste, é a empresa estatal responsável pela geração e distribuição de energia elétrica na região, e portanto, responsável direta pela construção das grandes barragens. 

Quando da construção da barragem de Sobradinho, a forma dramática como aconteceu o desalojamento dos trabalhadores rurais constituiu-se em violência e injustiça social, com os camponeses sendo expulsos de suas terras sem direito a quase nada, a não ser irrisórias indenizações. Denunciou-se então ser aquela a "maior migração humana forçada após a 2ª Guerra Mundial".
Ainda em 1974 foram dados os primeiros passos para a criação de outra grande barragem, no local da antiga cachoeira de Itaparica; sendo construído em 1988, um reservatório de 150 km de comprimento alagando 834 km² de terras. Foram deslocadas cerca de 10.500 famílias - quarenta e cinco mil pessoas - das zonas urbanas e rural de 7 municípios dos estados de Pernambuco e Bahia. O deslocamento dessa população se deu em condições menos desfavoráveis do que quando da experiência anterior. Um movimento organizativo de trabalhadores começou a se articular a partir de 1976, espelhados nos desastrosos acontecimentos ocorridos com as populações atingidas pela barragem de Sobradinho ali adiante, no mesmo rio.
Em 1979 criou-se uma estrutura organizativa chamada de pólo sindical dos trabalhadores do Submédio São Francisco para lutar contra os efeitos negativos da construção da Hidrelétrica de Itaparica, unificando posseiros, arrendatários, pequenos agricultores e sem terras da região, constituindo-se como uma organização de trabalhadores rurais para defesa dos direitos dos camponeses perante o governo.
O pólo sindical passou a pressionar a empresa estatal responsável pela barragem no sentido da obtenção de reassentamento com irrigação para a população deslocada, e ao longo dos anos realizaram manifestações públicas como ocupação de escritórios estatais e canteiro de obras (manifestações que reuniram mais de 5 mil camponeses) e passeatas, petições, seminários, enfrentamentos e lutas relacionadas aos efeitos sociais e ambientais da barragem. Esse forte movimento social tem obtido vantagens frente ao Estado e aos órgãos financiadores do projeto, como o Banco Mundial. Todavia, a dinâmica social exige a cada momento novas estratégias e táticas de lutas sociais devido à conjuntura nacional sempre em mudança. Cortes orçamentários, novas posturas governamentais e a anunciada privatização da empresa pública responsável - a CHESF - fazem com que o movimento sindical esteja sempre atento e ágil para desenvolver ações na defesa dos interesses dos seus representados.
Pelas suas dimensões, e pelo impacto ambiental provocado quando das suas construções, discorreremos nesse trabalho sobre essas barragens - Sobradinho e Itaparica - e que ações foram executadas pelos atores institucionais e sociais envolvidos, para enfrentar as conseqüências advindas quando da realização daquelas gigantescas obras. Pretende-se também fazer um balanço crítico dessa realidade e antever tendências sociais e políticas do movimento organizativo dos trabalhadores rurais na sua relação com o Estado brasileiro.
E assim foram dados os primeiros passos para a criação da barragem no local da antiga cachoeira de Itaparica. Em 1988, um reservatório de 150 km de comprimento alagou 834 km² de terras de boa qualidade. Delas eram arrancadas cerca de 200 mil toneladas de alimentos por ano. Foram deslocadas cerca de 10.500 famílias - quarenta e cinco mil pessoas - das zonas urbanas e rural dos municípios de Petrolândia, Floresta, Itacuruba, Belém do São Francisco, no estado de Pernambuco, e os de Glória, Rodelas e Chorrochó, na Bahia. Três cidades desapareceram, replantadas em outros locais com os pré-nomes de Nova ( Rodelas - BA, Petrolândia e Itacuruba - PE).
O deslocamento dessas populações foi em condições menos desfavoráveis do que quando da experiência anterior. Um movimento organizativo de trabalhadores começou a se articular a partir de 1976, espelhados nos desastrosos acontecimentos ocorridos com as populações atingidas pela barragem de Sobradinho (e também Moxotó) ali adiante, no mesmo rio.
No plano nacional, iniciava-se um processo de abertura política, que o ditador de então, o general Ernesto Geisel, classificou de "abertura lenta, gradual e segura" - tão lenta e gradual que a redemocratização plena do país só viria a acontecer em 1990, com a posse do primeiro presidente eleito após 24 anos de ditadura militar. Devido a essa incipiente distensão política, os movimentos sociais no Brasil começaram a se organizar: estudantes, operários metalúrgicos, bancários, trabalhadores rurais entre outras, e instituições como a Igreja Católica apoiaram a luta pelo retorno a um Estado de Direito. É nesse ambiente mais favorável ao associativismo que aconteceram as primeiras assembléias por município, encaminhadas por alguns Sindicatos de Trabalhadores Rurais, com o apoio da Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Pernambuco (FETAPE) e da Confederação dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG). Em 1979 ocorreu a primeira grande manifestação, uma concentração com cerca de 2.000 trabalhadores, em Petrolândia.
A principal reivindicação foi o reassentamento. E parte do princípio de "terra para quem nela trabalha", ou seja, todos deveriam ter o direito à terra, independente de ser ou não proprietário rural. Segundo a CHESF, cerca de 60 por cento estavam enquadrados na situação de proprietários. Assim, o movimento se constituía com o caráter de luta por reforma agrária.
A pauta de reivindicações era a seguinte: terra por terra na margem do lago; água nas casas e nos lotes; casa para morar; área de sequeiro e criatório; indenização justa das benfeitorias. As articulações para a formação do Pólo Sindical do Submédio São Francisco são feitas. Reunindo 13 Sindicatos de Trabalhadores Rurais, sendo 7 das áreas inundadas, esta organização coordenou as mobilizações. Elas se intensificaram e ganharam volume. Uma característica marcante da pressão que o pólo sindical passou a exercer sobre a CHESF tornou-se então, as grandes concentrações de protesto nos escritórios da empresa e no canteiro de obras da barragem. Essas concentrações demonstraram a capacidade organizativa e de mobilização das lideranças do movimento, manifestando-se como força e unidade de comando.
O ano de 1980 iniciou-se com aquela que é chamada a 2ª Concentração, em frente aos escritórios da CHESF, em Petrolândia, reunindo estimadamente 5.000 trabalhadores. Essa pressão força a empresa a mostrar o mapa com o tamanho do lago. Outras manifestações foram realizadas, e no dia 1º de maio aconteceu a 3ª Concentração, em Riacho Salgado, para comemorar a conquista do "mapa do lago". Ainda neste ano realizou-se a 4ª Concentração de trabalhadores, com a participação de 4.000 manifestantes. Foi aprovado um abaixo-assinado dirigido ao presidente do Brasil, reivindicando terra para o reassentamento das famílias relocadas.
Na esfera governamental, formou-se um Grupo de Trabalho pelo então Ministério das Minas e Energia para estudar as propostas dos trabalhadores. Com isso, o governo reconheceu a necessidade de negociação. Ao longo do ano de 1981 o Pólo Sindical desenvolveu um trabalho de localização e escolha de terras para o reassentamento. No mês de novembro foi entregue à CHESF um Plano de Reassentamento, município por município, com a relação das áreas.
Um grande confronto entre a polícia e os trabalhadores ocorre em 1982, no município de Glória. Os trabalhadores rurais impedem a CHESF de retirar pedras e outros materiais para as obras da barragem, de um sítio onde viviam dezenas de famílias, na localidade de Caruru, acampando na estrada e impedindo o trânsito das máquinas. Após 14 dias de resistência, com o apoio do Pólo Sindical, os manifestantes foram expulsos com violência e, após negociações, os atingidos são reassentados provisoriamente. Em janeiro de 1983 realizou-se a 5º Concentração, em Petrolândia, com a presença de 5.000 trabalhadores. Protestou-se contra a demora e a falta de providências da CHESF, além da denúncia da violência praticada no Caruru.
O ano de 1984 iniciou-se com mais uma grande manifestação, também em Petrolândia: a 6ª grande Concentração. Essa forma de mobilização e pressão organizada pelo Pólo Sindical mostrou-se eficaz desde os primórdios do movimento até os dias de hoje, março de 1999. As grandes conquistas desse movimento social foram conseguidas através da realização de mega-manifestações de massa, ao lado de uma articulação do Pólo Sindical com demais organizações da sociedade civil e apoio político de parlamentares e Partidos oposicionistas.
O Brasil vivia então num momento de transição da ditadura militar para o primeiro governo civil, que tomaria posse no ano seguinte. Reunindo um grande número de assessores técnicos - advogados, geógrafos, agrônomos - o Pólo Sindical aprimora sua proposta inicial e traça as diretrizes básicas para o reassentamento. As linhas principais passaram a ser: área irrigada de 6 hectares para cada trabalhador; 25 hectares de área; área de sequeiro e criatório; irrigação por aspersão; administração do projeto pelos trabalhadores; casa para todos; estrada; escolha de terras boas; desapropriação das terras
Em 1985 o Pólo Sindical articula-se para as negociações e realiza entrevistas com ministros em Brasília e com Governadores de estados em Salvador e Recife. Na falta de resultados concretos, promoveu manifestação de um dia no canteiro de obras da barragem, com a participação de 8.000 trabalhadores rurais. O discurso radicalizou-se: " Se a CHESF não fizer o reassentamento imediatamente, voltaremos para parar essa obra imediatamente".
Com a forte pressão e ameaça, a CHESF acenou com a possibilidade de medidas concretas, como reassentamento nas áreas da borda do Lago, ao tempo que alegava não ter recursos para realizar os projetos. Além disso, prometia o fechamento da barragem em um ano. Isso provocou um choque com os interesses dos camponeses. No dia 1º de dezembro de 1986, os trabalhadores ocuparam o canteiro da barragem e ali acampados, paralisaram as obras por seis dias. A CHESF ameaçou convocar o Exército para reprimir a manifestação e desalojar os acampados, mas logo cedeu e, em negociação, foi costurado o "Acordo de 1986".
 
O "acordo de 1986"
 
Esse acordo foi a referência mais significativa e a vitória mais importante do movimento organizado pelos atingidos da barragem, coordenados pelo Pólo Sindical. Ficou ali demonstrado que a CHESF não tinha formulado até então nenhum projeto de reassentamento. Mas toda essa movimentação se deu em um momento muito delicado, em que o Brasil estava negociando dinheiro externo para um plano de recuperação do setor hidrelétrico. A repercussão nacional e internacional do conflito terminou forçando o acordo.
O Brasil vivia então um período de redemocratização, que foi batizado de Nova República. Governava o país um presidente civil, após 21 anos de regime militar. E o governo do presidente José Sarney era muito sensível a reivindicações de grupos de pressão, o que contribuiu para as negociações. Esse foi o momento também que os trabalhadores rurais radicalizaram as suas formas de luta, através de ações ousadas, sem sofrerem a forte repressão do período ditatorial.
O cumprimento do acordado naquele fórum é cobrado até hoje, pois o Acordo de 1986 ainda está em vigor. Foi acertado o seguinte: terra para irrigação; casa de moradia; terra para o criatório; assistência técnica; garantia de 2,5 salários mínimos até o inicio da produção; indenização justa; participação dos trabalhadores nas decisões de reassentamento. A aplicação do acordo começou em 1987: a compra das terras, a construção das casas e o início de algumas obras de implantação do sistema de irrigação. Os conflitos de interesses resultantes das demandas dos trabalhadores e da acusação do não cumprimento integral do acordo levou a que os trabalhadores, no dia 10 de dezembro daquele ano fechassem as estradas e paralisassem a construção da nova cidade de Itucuruba. Em janeiro de 1988 houve novo fechamento de estradas e paralisação da construção da nova cidade de Rodelas e do povoado de Tarrachil. Em Belém, os trabalhadores ocuparam os escritórios da CHESF e paralisaram a construção da nova cidade.
 Em 1991 foram promovidas novas manifestações de protesto nos escritórios da CHESF e na barragem. Como ação intimidatória, policiais militares da Bahia e Pernambuco promovem o cerco e invasão de dez diferentes agrovilas, sob o pretexto de buscarem armas, espancando e detendo pessoas, entre elas dirigentes sindicais. Além disso, as reuniões entre o Pólo Sindical e a CHESF passaram a ser "protegidas" por forte aparato de segurança.

Itaparica 1998
 
Com esse título o Pólo Sindical do Submédio São Francisco lança um manifesto à nação e afirma que, como resultado do Acordo de 1986 até então apenas 38 por cento dos projetos de irrigação estavam em produção, com uma série de pendências; 42 por cento em construção e 20 por cento em estudo e sem definição. O Brasil nesse momento é governado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso.
Até aquele instante, na área rural, a CHESF tinha construído 126 agrovilas, com casas de alvenaria e infra-estrutura de energia elétrica, água tratada, saneamento básico e equipamentos comunitários (escolas, postos de saúde etc.). Os projetos de irrigação em funcionamento produziram, em 1997, cerca de 80 mil toneladas de produtos agrícolas, 340 mil dúzias de ovos, 350 toneladas de frango de corte e 330 mil litros de leite de vaca. Tanto para esses produtores como para os demais trabalhadores ainda desocupados é paga uma Verba de Manutenção Temporária (VMT) num valor próximo a dois salários mínimos.
No ano anterior 1997 o Pólo Sindical solicitou o Painel de Inspeção junto ao Banco Mundial, visando obter recursos para conclusão de Itaparica e assegurar a implementação de medidas de interesse da população reassentada nas agrovilas e projetos de irrigação. Foram as seguintes demandas: implantação de estruturas de drenagem; recuperação de solos; ajuste do sistema hidromecânico e instalação do campo de pesquisa agropecuária; construção de obras físicas e instalação de equipamentos (Centro de Armazenamento, mini-hospitais etc.) nos núcleos principais de todos os projetos. subsídios para a energia elétrica utilizada nos projetos de irrigação; criação de linhas de crédito especiais para custeio, investimento e capital de giro; instalação de estações meteorológicas para controle de dados climatológicos, necessários ao manejo eficiente de irrigação; e, mais as demandas específicas das agrovilas e projetos de irrigação existentes e em implantação, assim como o início da construção daqueles que continuam apenas em projeto.
O governo Fernando Henrique muda a forma de mediação do Estado com os trabalhadores rurais e cria o Grupo Executivo para a Conclusão do Projeto de Reassentamento de Populações da Usina Hidrelétrica de Itaparica (GERPI) órgão ligado à Casa Civil da Presidência. Ao tempo em que anuncia o cronograma de privatizações do sistema energético- a ELETROBRÁS, aí incluída a CHESF, para 1998.
O programa brasileiro de privatizações, iniciado em 1991, acelera-se durante o governo atual, e é considerado o maior em andamento no planeta. Após a privatização da siderurgia, petroquímica, telefonia e outros, o setor energético de propriedade da União se torna a bola da vez. Para os trabalhadores rurais atingidos pela barragem, a privatização da CHESF se constituiu numa ameaça ao cumprimento do Acordo de 1986, e as mobilizações para a execução e complementação dos projetos são revigoradas.
No mês de março de 1998 a CHESF preparava-se para as comemorações dos seus 50 anos, com toda pompa e circunstância, e foi anunciada a presença do presidente da República. O Pólo Sindical, em resposta, organizou uma grande manifestação, envolvendo quatro mil trabalhadores, ocupando e acampando na sede regional da empresa, em Paulo Afonso. As comemorações foram suspensas, a visita do senhor presidente adiada. Três diretores da Companhia foram mantidos reféns. A ocupação durou seis dias e, após negociações para a liberação de verbas para os reassentamentos, os trabalhadores voltaram para as suas casas.
Em dezembro de 1998 o Grupo Executivo para a Conclusão do Reassentamento de Itaparica (GERPI) lançou a proposta de Solução Financeira para as 1.680 famílias desalojadas pela barragem e que ainda não obtiveram lotes irrigados. Isso quer dizer que as famílias receberiam uma compensação financeira num valor entre 20 mil US$ e 33 mil US$ para abrirem mão do recebimento de terras em projetos de irrigação.
O Pólo Sindical se posicionou radicalmente contra a Solução Financeira e trabalhadores rurais ocuparam o escritório da Gerência do Empreendimento Itaparica (GEI), em Jatobá- Pernambuco, fazendo 30 funcionários como reféns e reivindicando a conclusão dos projetos de irrigação em andamento. Segundo o GERPI, cerca de mil famílias tinham assinado o Termo de Opção, isto é, optaram pela compensação financeira, faltando assinar o Termo de Transição, para recebimento do dinheiro acordado.
Frente a essa situação, o Pólo Sindical propôs a realização de um plebiscito para que as famílias interessadas decidissem democraticamente sobre os seus destinos. Enquanto isso, em toda região Nordeste do Brasil, assim como na bancada parlamentar nordestina no Congresso Nacional, construiu-se um movimento suprapartidário contra a privatização da CHESF. O governo recua diante das pressões e suspende temporariamente o processo de privatização da Companhia.
 
Conclusões
 
Nesse breve estudo foi visto que, baseados na experiência dos tristes episódios vividos pelos trabalhadores rurais expulsos de suas terras quando da construção da barragem de Sobradinho, entregues à própria sorte no sertão nordestino, ergue-se um vigoroso movimento sindical nos municípios atingidos pela construção da barragem de Itaparica, quando os trabalhadores rurais organizam-se para lutar contra os efeitos negativos daquela grande obra.
O eixo mobilizador dos camponeses desde o início foi de reivindicação de reassentamento em áreas irrigadas. E a partir disso todas as ações foram desencadeadas para forçar o governo a aceitar essas propostas.
A conjuntura política de redemocratização nacional e as grandes mobilizações de massa orquestradas com ousadas ações demonstraram a força do movimento e foram eficazes para a obtenção do Acordo de 1986. Com o Estado imerso em crise fiscal e graças à mobilização constante e articulação política a nível nacional os trabalhadores rurais obtiveram respostas às suas reivindicações.
Mais recentemente a luta principal torna-se a conclusão dos projetos de irrigação e a oferta de estrutura para o seu funcionamento. Um novo fator instaura-se no cenário: a premente privatização da Companhia Hidrelétrica. A desconfiança do não cumprimento do Acordo aumenta e o movimento toma novo fôlego. Quem são os manifestantes de 1998 e 99? Os mesmos de 1979 ou duas a três gerações de camponeses pressionando o Estado? A segunda resposta é a mais factível.
Com a oferta da Solução Financeiro por parte do Estado acontece o que já se desconfiava: agiliza-se o processo de resolução do problema e abre-se caminho para a privatização e as valorizadas terras caem nas mãos de grandes empresas, concentrando a propriedade da terra, utilizando-se capital intensivo e parcos empregos sendo gerados. As favelas das grandes e médias cidades brasileiras abrigarão os camponeses expulsos da terra pela qual tanto lutaram... Mas, a dinâmica desse movimento social sempre guardou surpresas, e apesar da situação adversa, construiu-se uma história de conquistas. Daqui em diante será diferente?

Fonte: http://www.ub.edu/geocrit/sn-45-30.htm

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Maciel Melo - O Caboclo Sonhador







O pernambucano, de Iguaraci, Maciel Melo é um dos maiores incentivadores do forró pé-de-serra. Possui composições gravadas por estrelas nacionais como Zé Ramalho, Elba Ramalho, Dominguinhos e Fagner (que batizou um álbum de Caboclo Sonhador, sua composição mais conhecida), ou astros regionais, Flávio José, Novinho da Paraíba, Alcymar Monteiro. Antes do estouro De baiões e xotes no Sul Maravilha, ele havia planejado uma volta ao arrasta-pé tradicional, que aporta agora às lojas, com selo da Kuarup e título de Sina de Cantador. Quando Caboclo Sonhador e Que Nem Vem-Vem (a primeira com Flávio José e Fagner, a segunda com Elba Ramalho) pasaram a tocar sem parar nas FMs, ele foi contratado por Manoel Gurgel, dono da linha de montagem do forró cearense, cuja gravadora a SomZoom tem os passes de Mastruz Com Leite, Mel com Terra e várias outras bandas do tipo, mas não chegou a esquentar o lugar: "Foi uma experiência válida, deu pra pagar as contas, Gurgel queria que eu continuasse, só que minha música não se encaixa no estilo da gravadora". Só o Mastruz com Leite gravou quatro músicas suas, no CD Boi Zebu e as Formigas. Outra banda liderada por Gurgel, a Balaio de Gato, fez o primeiro disco tendo como carro-chefe uma composição de Maciel, Carinho e Cafuné, seu primeiro CD, Alegria de Nós Dois, saiu pela SomZoom. Apesar do reconhecimento ao empresário, Maciel Melo, com seu jeito e falar tranquilos de sertanejo, não vê com bons olhos as bandas cearenses: "Foi uma coisa que lascou o pessoal que faz forró, e pra mim aquilo nem é forró”. A trajetória de Maciel Melo tem sido uma retomada de suas influências no sertão do Pajeú. No início da carreira, em Petrolina, ele tocava em banda de baile, pilotando num teclado os sucessos do momento. Seu Lp de estréia, Desafio das Léguas, de 88, girava na rota da cantoria, com direito às participações especiais de Vital Farias, Xangai, Décio Marques.
Nos discos seguintes (sem contar o da SomZoom), contratado pela Velas, ele assumiu o forró em Janelas (a faixa título é uma parceria com Anchieta Dali), de 96. No próximo, Retinas, de 97, mostrou facetas mais urbanas de sua obra: "Quando vi que a gravadora não ia lançar o CD a tempo para São João, tava dando prioridade ao de Dominguinhos, com músicas de Luiz Gonzaga, eu decidi incluir coisas minhas que não teriam muita chance de serem gravadas, frevos, outros estilos". Sina de Cantador tem repertório formado basicamente por xotes à moda antiga, intercalado por uma toada em que homenageia sua cidade natal, e um choro, gênero esquecido pelos forrozeiros, mas que sempre esteve presente em trabalhos de gente como Abdias ou Jackson do Pandeiro, só que um choro de sotaque nordestino, costurado por um oito-baixos.
No próximo CD, Feira de Sonhos, (que saiu independente, com patrocínio da Telpe), Maciel Melo voltou à música de sua infância, inicialmente apreendida nos acordes do sanfoneiro Heleno Louro, seu pai: "Vou fazer um trabalho acústico, ainda mais pé-de-serra, sem nada de teclado, guitarra, na base da sanfona, violão, cavaquinho, rabeca. É a vantagem de não estar ligado a uma grande gravadora, onde os caras dizem o que interessa ou não a eles". Como exemplo, Maciel Melo cita o novo CD de Elba Ramalho, para quem enviou quatro composições, mas ela só teve direito a incluir uma, ou o recém-lançado Nas Costas do Brasil, de Dominguinhos; "Eu fiz uma música especialmente para ele, mas a Velas queria fazer um disco com seus sucessos, e acabei sobrando."
Quando a TV Jornal decidiu por no ar um programa dedicado ao forró, o Pé-de Serra, fez o convite a Maciel Melo. Sem tempo de ocupar-se com mais uma atividade, ele indicou o poeta sertanejo Zeto. Quatro anos depois, ele ficou à frente do Pé-de-Serra: "É uma experiência diferente, no começo senti um pouco de dificuldades, mas já tô desenrolado. Quando é necessário o cabôclo aprende a ser inteligente". É a velha máxima funcionando: a necessidade é mãe da invenção.
Até 90, Maciel Melo era apenas compositor, achando-se muito tímido para subir num palco e enfrentar o público: "Aí aconteceu um festival de MPB na TV Record, e participei como intérprete cantando um maracatu de Walmar", lembra. Com nome firmado no universo do forró, na sua e na voz de vários artistas, Maciel Melo diz que por mais estilos ou gêneros pelos quais possa enveredar ele continuará sempre um cantador: "Nunca vou abandonar este vínculo que tenho com a música de Elomar, Xangai, gosto mesmo é de boa poesia, não desta coisa banal que domina o mercado", confessa, mostrando que o Sina de Cantador, é mais que um título de um dos seus cds.

domingo, 6 de julho de 2014

Xangai





Eugênio Avelino nasceu em Vitória da Conquista, Bahia, em 1948. Ainda criança, mudou-se com a família para a Zona da Mata de Minas Gerais. Lá, seu pai montou uma sorveteria, na cidade de Nanuque, cujo nome era Xangai. Daí o artista tirou, mais tarde, seu nome artístico. Sua família era ligada à música. O avô era sanfoneiro, e Xangai iniciou os estudos musicais na sanfona, passando, posteriormente, ao violão. No início da década de 1970, viveu na fazenda de seu primo, o compositor Elomar. Com ele, conheceu a cultura e a música caipira, e aprendeu a cantar aboiando o gado. Essa convivência foi fundamental para sua formação musical. Em 1973, mudou-se para o Rio de Janeiro. Chegou a começar uma faculdade de economia, que largou para dedicar-se à música. Em 1976, gravou seu primeiro disco. Xangai chama a atenção não só pelo talento, mas também porque faz críticas abertas à cultura de massa, e ao monopólio musical instituído pelas grandes gravadoras. Ele faz questão que sua música seja uma resistência a isso. E notemos que seus primeiros discos, gravados em meados da década de 70 e no começo da década de 80, coincidiram com o apogeu das grandes gravadoras. Ele fala da mídia de massa, que impõe a todo o mundo a música de alguns poucos artistas, como um rolo compressor que massacra as culturas populares locais, que, por mais que tenham qualidade e consigam resistir, ficam em estado de extrema vulnerabilidade. Mas ele alerta que existem pessoas que não se deixam enganar pelo canto das “pseudo-sereiras”, a quem ele denomina “guerrilheiros culturais”, e entre os quais ele mesmo se inclui. Apesar disso, Xangai alcançou grande sucesso, e hoje é um artista muito conhecido. Mas sua postura, fiel à música de qualidade, não permitiu que ele ficasse rico. Segundo ele, dá para pagar as contas, mas nunca tem dinheiro sobrando. Qué qui tu tem canário é o terceiro disco da carreira de Xangai, gravado em 1981. Apesar de Xangai não rotular sua música, sua obra evidencia claramente sua afinidade com os sons e os temas do sertão. Nesse disco, ele mostra o grande compositor que já era em início de carreira, e seu enorme talento como intérprete. Destaco as faixas Estampas Eucalol, de Hélio Contreiras, e Matança, de Jatobá.http://2.bp.blogspot.com/_AnrQ81MQUnM/THxYiEv7QqI/AAAAAAAAAKw/G0CAHoWsLBs/s1600/xangai+e+quinteto+da+paraiba+foto.jpg


quarta-feira, 2 de julho de 2014

Zeto - O Andarilho

José Antônio do Nascimento Filho - Zeto, também conhecido como Zeto do Pajeú, foi um Poeta, Cantor, Compositor e Teatrólogo. Nasceu na cidade de Canhotinho - PE, em 1956. Era um menestrel, um autentico cantador do Sertão antigo, como afirma na sua cantiga Andarilho (...)Imitar os ciganos andarilhos, percorrer os caminhos dos trocadilhos(...)”. Durante uma viagem a São Paulo, Zeto conheceu Bia Marinho, filha do repentista Lourival Patriota (Louro do Pajeú) – “rei do trocadilho”. Morou muitos anos na cidade de São José do Egito, onde se casou com cantora Bia Marinho e tiveram os filhos Antônio Marinho do Nascimento e Miguel Marinho. Da parceria musical surgiu o disco, Estrada, em 1989, dedicado ao poeta e compositor José Marcolino. Participou da campanha do programa eleitoral de Miguel Arraes, em 1986, improvisando em cima do mote “Arraes vai entrar pela porta que saiu”. Apresentou o programa Pé de Serra, na TV Jornal, em 1996, foi compositor de forró bastante requisitado pelos artistas do gênero. Entre os que gravaram suas composições estão Bia Marinho, Paulo Matricó, Alcymar Monteiro e Flávio José. Gravou seu último disco em 1999 – com o título de Curvas. Morreu em outubro de 2002 em Palmares, de complicações no fígado, sendo enterrado em Canhotinho-PE, cidade onde reside sua família.





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