quarta-feira, 16 de novembro de 2011

A farsa do governo Eduardo Campos

Por Edilson Silva

A imprensa desta semana estampou a face de um governador aberto em sorriso com a aprovação altíssima de seu governo. Mais de 80%. Os números têm a magia de arrogarem-se incontestes, irrefutáveis. São a base das ciências que não exigem maiores níveis de abstração na busca de verdades e certezas. São para se panfletar à vontade. Positivismo de pior tipo.

E é nisso que o governo e seus porta-vozes se esbaldam. Esses números servem para submeter ainda mais os puxa-sacos - imprensa incluída -; servem para tentar intimidar a oposição e amealhar novos subalternos; e servem, no caso específico em tela, para ir cacifando o governador em sua indisfarçável tentativa de alçar vôos nacionais.

Mas este filme dos altos índices de aprovação já foi visto no Brasil e no mundo, em muitas outras ocasiões. Com crescimento econômico e geração de empregos, muitos absurdos já foram cometidos no nosso país, e seus patrocinadores depois caíram no ostracismo, deixando o buraco para as gerações futuras. O roteiro do governo Eduardo Campos não é original.

O avô do governador mesmo, o velho Arraes – um grande brasileiro -, foi cassado por um regime que gozava de inegável apoio popular e fazia propagandas triunfalistas: “Eu te amo, meu Brasil, eu te amo... meu coração é verde, amarelo, branco, azul anil...” (http://www.youtube.com/watch?v=J-c-__IhzqI&feature=related). Ou então: “Este é um país que vai pra frente...” (http://www.youtube.com/watch?v=VITtfvWM-mg), quase sempre na voz alugada d’Os Incríveis. Economia crescendo, empregos, povo alegre, mas o país submetendo-se aos interesses antinacionais e os descontentes sendo assassinados em porões da ditadura que, anos depois, foi enxotada pela mobilização popular, combinando luta por democracia e contra a crise econômica.

Em tempos menos remotos, vimos a supremacia de FHC em nível nacional, a força de Jarbas Vasconcelos em Pernambuco. Hoje estas lideranças de outrora já não são assim, digamos, tão triunfantes. Ou seja, os números em política podem ser fotografias maquiadas, e bem maquiadas. Podem revelar tão somente a sensação superficial, a epiderme do sentimento popular, que, como na ditadura, podem ser manipulados. E quando sabemos que as pesquisas são produtos encomendados, que dificilmente serão elaborados a contragosto do cliente, as razões para ligar o desconfiometro devem ser redobradas.

O governo Eduardo Campos é o campeão da maquiagem. Suas peças publicitárias são uma farsa. Os números apresentados da escola pública descaradamente não se referem a todas as escolas, mas tão somente às de referência. O texto na TV é rápido, ligeiro o suficiente para confundir e esconder que em Pernambuco a escola pública fundamental deixou de ser universal, para ser focada em grupos minoritários.

As peças publicitárias da saúde vão no mesmo caminho. Número de aumento de “profissionais de saúde” são mostrados, mas quantos por concurso público? Quantos são, na verdade, contratados em manobras não republicanas, por convites, recolocando nosso Estado no período prévio à Constituição de 1988, quando a sociedade conquistou a positivação constitucional de que só trabalha no serviço público servidor contratado mediante concurso? Reparem nas peças da segurança pública. As manobras se repetem.

Os números apresentados, tanto pelas peças publicitárias quanto pelas “pesquisas”, estão a serviço da maquiagem de um fenômeno relativamente novo na política brasileira: as oligarquias com discurso de esquerda. É o patrimonialismo “moderno”, é a nova direita pós-neoliberal, o anti-republicanismo que faz questão de confundir democracia com ineficiência, por um lado, e ordem e eficiência com ausência de república, de outro.

Assim, bandeiras como participação popular e controle social são associadas ao atraso. O slogan “deixa o homem trabalhar” (sem atrapalhar, logo, sem participar, criticar, fiscalizar) é parte desta estratégia que se vê em várias gestões Brasil a fora.

É curioso que no mesmo momento que o governo “ostente” níveis tão altos de aprovação, um dos cientistas sociais mais respeitados em nosso estado, dos mais insuspeitos, escreva um artigo tão na contra-mão da euforia. Refiro-me a Michel Zaidan Filho, que escreveu um texto, Natureza e Entropia (http://edilsonpsol.blogspot.com/2011/08/natureza-e-entropia.html), em que discorre com maestria sobre as opções antiecológicas do governo Eduardo Campos.

O texto mostra que hoje quem está nos porões da ditadura do crescimento irracional é a natureza, pendurada num “pau-de-arara”, e as ações políticas de antes, são hoje as enchentes, deslizamentos, o aquecimento global. Façamos como a natureza: não nos submetamos aos números.




Presidente do PSOL-PE

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