Ao longo da sua carreira de aproximadamente 65 anos, Chico Anysio, o maior criador de
personagens, lançou mais
de 200 tipos diferentes. Foram médicos, políticos e cantores; mulheres e
homossexuais; jovens e velhos; negros e mulatos; caipiras, gaúchos e
nordestinos; e, acima de tudo, gente do povo. Mas não foi só com seus
‘filhos’ que o humorista nascido Francisco Anysio de Oliveira Paula
Filho fez sucesso. A arte o acompanhou em outros segmentos como a
literatura, pintura e música.
Nascido em Maranguape, no Ceará, em 12 de
abril de 1931, viu seu pai perder toda a frota de sua empresa de ônibus
num incêndio quando tinha 7 anos; costumava dizer que foi dormir rico e
acordou pobre. Ao lado da mãe e de três irmãos, Chico mudou-se para o
uma pensão no bairro do Catete, no Rio de Janeiro, cidade onde já morava
o irmão mais velho.
Ainda jovem, começou a participar de
programas de calouros fazendo um número com mais de trinta imitações de
artistas da época. O humorista ganharia os concursos de atrações como
‘Papel Carbono’ e ‘A Hora do Pato’, ambos da Rádio Nacional. Por conta
de seguidas vitórias, acabou sendo rejeitado em outros concursos.
No começo da carreira, exerce várias funções na Rádio Guanabara
O futuro humorista sonhava ser jogador de
futebol mas, aos 17 anos, viu sua vida mudar. Num dia, ao ir buscar um
par de sapatos em casa para poder participar de uma pelada, resolveu
acompanhar a irmã Lupe Gigliotti (falecida em dezembro de 2010) em um
teste para a Rádio Guanabara. Fez dois testes e acabou aprovado, ao lado
de nomes como Nádia Maria, Fernanda Montenegro e Silvio Santos. Com
menos de um mês já era locutor nas madrugadas, ator de radionovelas e
comentarista esportivo. Logo depois, escreveu programas como ‘Família
Behring’ e ‘Showping-pong’.
Em 1949, o humorista se transfere para a
Rádio Mayrink Veiga, onde era responsável por 13 programas. Chico
retornaria para o Nordeste antes de completar 20 anos e ingressou na
Rádio Clube de Pernambuco. A volta definitiva ao Rio viria pouco tempo
depois já contratado da Rádio Clube do Brasil. Em 1952, o humorista
reintegrou o elenco da Mayrink Veiga, exercendo os papéis de autor, ator
e diretor. Nessa época, dirigia atrações como ‘A Rainha Canta’ (da
cantora Ângela Maria) e ‘Buraco de Fechadura’.
Nasce o primeiro dos mais de 200 personagens
Ainda em 1952, Chico Anysio lançaria o
primeiro de seus personagens e, sem dúvida, o mais importante: o
professor Raimundo Nonato. Inicialmente, a ‘Escolinha’ era feita no
rádio. Cinco anos depois, no programa ‘Noites Cariocas’, Chico aparece
pela primeira vez no vídeo, na extinta TV Rio, onde também atuou em ‘Aí
vem dona Isaura’, interpretando o tio da protagonista vivida por Ema
D’Ávila. Na emissora, o humorista é nomeado diretor da linha de shows
que contava com programas como ‘O Riso é o Limite’ e ‘Praça da Alegria’,
e escreve o humorístico ‘Milhões de Napoleões’.
Também em 1957, lança três personagens
nos ‘Espetáculos Tonelux’, na TV Tupi. Na TV Excelsior, cria, ao lado de
Daniel Filho, e estrela ‘A Volta ao Mundo em 80 Shows’. Com o advento
do videoteipe, Chico, em parceria com o diretor Carlos Manga, lança o
lendário ‘Chico Anysio Show’, com as suas criações contracenando, em
1960, na TV Rio. No trabalho manual, algo inédito para a época, as fitas
eram cortadas e remendadas; assim, Chico poderia dividir a mesma cena
com ele mesmo.
O humorista trabalhou ainda na TV Record,
onde foi um dos nomes do ‘Essa Noite se Improvisa’ e ‘Vamos Simbora’;
na emissora, apresentou também o ‘Professor Raimundo’. Por mais de um
ano ficou fora da televisão e só retornaria em 1969, na Globo, com o
mensal ‘Chico Anysio Especial’, que era feito totalmente fora de
estúdios. Um ano depois apresentou o ‘Você tem Tempo?’ e em 72, o ‘Chico
em Quadrinhos’.
Com “Chico City”, se desdobra na TV
Após um período curto fora da emissora
foi recontratado e lançou, em janeiro de 1973, o humorístico ‘Chico
City’, que se passava numa fictícia cidade do interior onde a maioria
dos personagens era vivida pelo próprio comediante. A atração ficou no
ar até abril de 1980. Em março seguinte, apresentou o ‘Chico Total’. Já
em abril de 1982, retorna com o ‘Chico Anysio Show’, até agosto de 1990.
Em 1991, propõe uma linguagem diferenciada com ‘Estados Anysios de
Chico City’, que acaba não dando muito certo.
Cinco anos depois, recria o ‘Chico
Total’, agora com formato semanal, e em 1999, lança ‘O Belo e as Feras’,
deixando de interpretar suas criações. Ainda na Globo, o humorista teve
um quadro no ‘Fantástico’ (onde aparecia fazendo crônicas entre 1974 a
91), foi supervisor de ‘Os Trapalhões’ (nos anos 90), atuou em novelas
como ‘Feijão Maravilha’ (1979, onde apareceu caracterizado como Salomé),
‘Terra Nostra’ (1999) e ‘Caminho das Índias’ (2009), além da minissérie
‘Engraçadinha’ (1995) e esteve em programas como ‘Brava Gente’ (2002) e
‘Zorra Total’ (1999 e 2010), onde reviveu alguns de seus tipos.
O voo solo de alguns personagens
Na Copa do Mundo de
1990, na Itália, foi comentarista esportivo da Rede Globo. Em 2009 e
2011, estrelou especiais de final de ano na emissora, o ‘Chico &
Amigos’. Três de seus personagens acabaram ganhando programas solos –
‘Azambuja & Cia.’ (1975), ‘Linguinha x Mr.Yes’ (atração diária entre
1971 e 72) e ‘Escolinha do Professor Raimundo’. No cinema, Chico
escreveu quase 20 chanchadas e esteve em filmes como ‘Entrei de gaiato’
(1959), ‘Tieta’ (1996), ‘Se eu fosse você 2′ (2009) e ‘Uma professora
muito maluquinha’ (2010), além de dublar o personagem Carl de ‘Up –
Altas aventuras’ (2009).
Na literatura, mais de 20 livros; na música, vários discos gravados
A veia na literatura levou o humorista a
escrever mais de 20 livros, como ‘O batizado da vaca’ (1972), ‘O enterro
do anão’ (1973), ‘É mentira, Terta?’ (1973), ‘Feijoada no Copa’ (1976),
‘O Tiete do Agreste’ (1984), ‘Sou Francisco’ (1992), ‘Jesuíno, o
Profeta’ (1993), ‘Como segurar seu casamento’ (2000) e ‘Mesa de buteco’
(2005). Em 2007, lançou um livro com a caricatura de aproximadamente 80
de seus personagens e um DVD com os melhores momentos de seus programas.
Como pintor, expôs seus trabalhos cuja
maioria retratava paisagens marítimas. Na música, lançou aproximadamente
duas dezenas de discos, com destaque para ‘Chico Anysio show’ (1967),
‘Chico Anysio fantástico’ (1973), ‘Chico com c’ (1976), ’30 anos de
Chico Anysio’ (1981) e ‘Chico é do cassete’ (1986), além de trabalhos
religiosos contando a vida de Padre Cícero, Frei Damião, São Francisco
de Assis e São Judas Tadeu.
Alguns de seus tipos também ganharam
trabalhos em LPs, como ‘Linguinha’ (1971), ‘Roberval Taylor’ (1976) e
‘Coalhada, o craque que faltou na seleção’ (1979). Como compositor,
assinou canções gravadas por Dolores Duran (como ‘Zefa cangaceira’ e
‘Prece vitaliana’) e Wando (‘Safada’), e fez parcerias com João Roberto
Kelly (com ‘Rancho da praça 11′) e Arnaud Rodrigues (em músicas como
‘Vou batê pra tu batê). O ‘Hino ao músico’, de sua autoria junto com
Nancy Wanderley e Chocolate, foi tema de seus programas na TV.
No teatro, estrelou diversos espetáculos
por todo o Brasil bem antes da moda do ‘stand-up’. Subiu aos palcos com
‘Chico Anysio só’, ‘Uma noite com Chico Anysio’, ‘No quarto com Chico
Anysio’, ‘Chico set’, ‘Eu conto, vocês cantam’ e ‘Chico.Tom’, entre
várias outras. Ainda no teatro, dirigiu comédias e shows, como ‘País
tropical’, com Jorge Bem Jor, em 1974; ‘Papo furado’, de sua autoria, em
1978; ‘Seu Boneco’ (1992); ‘Fafy Siqueira ou não queira’ (1995) e ‘Com
licença, estou chegando’ (1998).
Prêmios diversos e homenagens no carnaval carioca
Chico foi homenageado duas vezes no
carnaval do Rio: em 1997 pela Arranco, no enredo ‘Chico Anysio – 50 anos
de humor’, e em 2009 pela Unidos do Anil, em ‘Chico Total – Sou Anil e
faço carnaval’. O humorista recebeu ainda diversos prêmios; entre eles,
quase 20 Troféus Imprensa, três estatuetas da Associação Paulista de
Críticos de Arte, as Medalhas de Ouro e Bronze e o Diploma de Honra ao
Mérito do Festival Internacional de Filme e TV de Nova York. Durante a
carreira, envolveu-se em algumas polêmicas.
Em 1996, enquanto gravava o ‘Chico
Total’, foi acusado de racismo por causa do quadro ‘Café Bola Branca’,
reduto do sambista Zé Tamborim (interpretado por ele), onde atores
brancos apareciam pintados de preto. Nessa mesma época, sofreu um
acidente e fraturou o maxilar, passando por uma delicada cirurgia. Como
sequela, teve uma paralisia parcial do rosto, que o levou a tratamento
nos EUA. Por várias vezes, Chico queixou-se da Rede Globo e de ter
permanecido por anos na ‘geladeira’. O humorista chegou a se submeter a
oito cateterismos e a colocar um stent no coração.
Na vida pessoal, casou seis vezes – com
as atrizes Nancy Wanderley (1927-2008), Rose Rondelly (1934-2005) e
Alcione Mazzeo, com a ex-frenética Regina Chaves, com ex-ministra Zélia
Cardoso de Mello e com a empresária Malga Di Paula. Teve nove filhos: os
atores Lug de Paula, Nizo Neto e Bruno Mazzeo, o diretor de imagem Rico
Rondelli, o DJ Cícero Chaves, Rodrigo e Vitória, além de dois
adotados, um deles o empresário e ator André Lucas. Chico teve 16
irmãos, como o cineasta Zelito Viana, era tio do ator Marcos Palmeira e
da atriz e diretora Cininha de Paula e tio-avô da atriz Maria Maya.
A saúde de Chico Anysio passou a
apresentar sinais de desgaste em 2009, quando ele foi internado por
causa de uma pneumonia. Já em agosto de 2010, retirou parte do intestino
grosso, após apresentar um quadro de hemorragia digestiva. Em dezembro,
uma nova internação por falta de ar; o seu estado se agravou e o
humorista passou mais de 110 dias no hospital.
Em novembro, por causa de uma infecção
urinária, foi novamente internado onde ficou por 22 dias. Um dia após
ter alta, em dezembro, voltou ao hospital, agora com hemorragia
digestiva. Em janeiro, foi operado para retirada de um segmento do
intestino delgado, e precisou iniciar sessões de diálise. Em fevereiro,
apresentou novo quadro de infecção pulmonar, o quadro clínico do
humorista foi piorando. Chico Anysio morreu aos 80 anos, após
sofrer duas paradas cardíacas; ele teve ainda falência múltipla de
órgãos.
Fonte: http://centraldenoticias.wordpress.com